_Pedro Russo
Era para ser somente um ensaio no Solar da Marquesa e na Casa da Imagem. Aconteceu, rendeu algumas boas fotos externas, já que a burocracia municipal impediu qualquer foto do interior das edificações históricas. Para mim, revoltante, mas vida que segue. Logo, o cenário das fotos acabou sendo outro, mais amplo, mais dinâmico e, ainda mais revoltante: a triste realidade do Centro Histórico de São Paulo.
Desde o trajeto inicial pela Av. da Liberdade até a praça homônima, a população em situação de rua já saltava os olhos. Tal cenário já chamava a atenção antes da pandemia de Covid-19, porém a realidade ali visivelmente se agravou. As diferentes apropriações do espaço impressionam, com cozinhas improvisadas junto a barracas familiares e ocupações diferenciadas, como uma cama de casal entre detalhes de fachada. Seriam ainda mais impressionantes se não fossem reflexo de falta de políticas habitacionais na área central e pela falta de atenção dada a essa população em um cenário pandêmico**.
A situação torna- se ainda mais alarmante ao se aproximar à praça da Sé. Os olhares perdidos são muitos, cheios de histórias e memórias singulares. Trajetórias únicas que os trouxeram a essa realidade, seja dependência química ou problemas familiares, que a nós, como meros coadjuvantes, não nos cabe julgar. Se reúnem em pequenos grupos, entre as mesmas barracas, diálogos, garrafas de pinga e companheiros de jornada.
Porém, entre as limitações de ocupação do espaço por parte do poder público, como gradis em calçadas e pedras em baixios de viaduto, e a visão de “praga urbana” por parte da população, existe a resistência. As adversidades são diárias assim como as incertezas do amanhã. O frio e a fome não cessam, independentemente da situação.
As fotos por mim tiradas buscam trazer esse caráter de denúncia, como a resistência se mostra presente no centro de São Paulo e a urgência de programas habitacionais efetivos.
Justiça para quem?
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Busquei nas fotos acima, tiradas próximo ao Páteo do Colégio, um enquadramento amplo, sem nada muito definido como primeiro plano. Buscou-se mostrar as diferentes ocupações do espaço e as limitações impostas para tal, como o gradil ao redor do monumento da Glória Imortal. Além disso, fica o questionamento, contrariando a presença do Tribunal de Justiça ao fundo: justiça para quem?
Entre as proibições, a resistência.
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A foto acima foi tirada com muito receio, porém a mensagem se mostra clara. Entre as tamanhas restrições impostas (placa de proibido parar e estacionar), há quem resista e se mostre presente (pessoa em situação de rua).
A situação é crítica e a solução se mostra cada vez mais urgente. Por ora, resistimos.
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