_Gabriela Seloto
Composta por prédios espelhados e estruturas colossais, a avenida Brigadeiro Faria Lima rasga o traçado urbano em uma tentativa falha da prefeitura de São Paulo: adensar a região simbolizando modernidade e riqueza, viabilizando transporte público e infraestrutura. Sede dos maiores escritórios e empresas da cidade, a Faria Lima era uma antiga área de várzea do rio Pinheiros composta por sobrados residenciais até meados de 1966, quando foi inaugurado o shopping Iguatemi.
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Vista aérea da avenida em 1982
A fim de valorizar a área, o shopping financiou a expansão da avenida, que foi tomando forma a partir das construções de grandes apartamentos, inspirados em edifícios da Avenida Paulista na década de 1970. Assim, ainda em uma tentativa de ligar a avenida ao largo da Batata e às proximidades da Cidade Jardim, a Operação Urbana Faria Lima em 2001 levou à gentrificação massiva: iniciou-se a construção dos famosos edifícios espelhados inspirados no skyline da China, Londres, França e Dubai. No entanto, para isso foram retiradas dezenas de famílias que moravam no local, sem uma proposta de realocação, uma prova do desprezo com os aspectos de formação, forma, posição e papel dos elementos na cidade.
A avenida conta com falta de transporte público: carente de linhas ferroviárias e metroviárias, mostra difícil acesso para pedestres, além da ausência de fachadas ativas. A concentração espacial e a organização funcional da avenida são, por sua vez, detentores de um papel segregativo na cidade que impede uma democratização do espaço: Refletem seu interesse elitista, em uma proposta de manter a população de menor renda afastada da região, principal divergência em relação à Avenida Paulista. O fácil acesso esbanjado por esta, garante a mistura e pluralidade da região, fator que falta para Faria Lima e expõe seu impacto consequente da gentrificação.
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A Avenida Brigadeiro Faria Lima
disponível em: exame.com/blog/genoma-imobiliario/faria-lima-o-condado-onde-o-mercado-de-escritorios-permanece-aquecido/
Mesmo ao possuir edifícios que negam a cidade, a Avenida Faria Lima é um ícone de São Paulo que reflete aspectos da cidade como um todo: a exclusão em razão da dificuldade de acesso; falta de incentivo à fachada ativa em diversas regiões; ausência de pedestres e atividades ou edifícios culturais. Desde seus investimentos iniciais, visava ter como público alvo a elite paulista, uma vez que seu crescimento inicial foi fruto de um shopping. Depois dos investimentos de 1966, foi a vez da prefeitura tentar adensar a região. A criação de edifícios skyline não leva em consideração o clima tropical, a história da região ou sequer uma breve relação com a região de Pinheiros. Mostra-se evidente que a Faria Lima é um exemplo do que São Paulo evidencia ao mundo: o capitalismo brasileiro, reflete tanto o que os olhos mundiais desejam quanto toda a desigualdade escancarada, causando uma crescente cacofonia da paisagem e a perda da qualidade do espaço público.
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