Fim da meia entrada: elitização da cultura disfarçada de igualdade

_Gabriela Seloto

Na noite do dia 27/10/2021, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) aprovou o projeto que acaba com a meia entrada em eventos culturais como cinemas, peças teatrais e eventos musicais e circenses. Assim, estudantes, professores e idosos - de 0 a 99 anos, como diz o deputado Arthur do Val, autor do projeto - pagarão o mesmo valor para a entrada nestes eventos.

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Apesar de Arthur argumentar que a demanda seja do próprio setor cultural, distorcendo os preços dos eventos e dando uma falsa ideia de “meia entrada”, o benefício ainda é a forma que estudantes de baixa renda e idosos, principalmente, têm acesso a teatros, cinemas e shows. O projeto bate de frente com uma lei federal de 2013 (a qual garante o acesso de estudantes e idosos a tais ambientes), sem falar da necessidade de aprovação do atual governador João Doria. Empresários do setor cultural aprovaram a medida e argumentaram ainda que os preços do setor cultural serão mais justos e garantirão um público maior devido à queda nos preços dos ingressos. Supondo que o preço diminua, ainda não chegará ao valor de uma meia entrada, o que gera uma adesão menor do público estudante e idoso.

Segundo o Governo do Estado, os dados da Secretaria de Educação indicam que há 3,5 milhões de estudantes matriculados na rede estadual de ensino, com cerca de 770 mil em situação de pobreza ou extrema pobreza. Mesmo que os preços sejam reduzidos, estes estudantes ainda não conseguirão pagar o valor integral de um ingresso. Outro fator alarmante é a possibilidade de os preços se tornarem abusivos, sem nenhum parâmetro que possa regularizar os valores, elitizando o acesso a tais locais.

Portanto, em um país onde a cultura já é elitizada e pouco valorizada, a probabilidade de os valores serem reajustados a preços mais baixos é mínima. Limitar esse acesso demonstra que apenas uma parcela pequena da população terá meios de participar de peças, shows e até mesmo ir ao cinema, evidenciando que a preocupação com o lazer e cultura no estado e até mesmo no país não existe. A meia entrada, ao contrário do que pensam empresários e deputados, garante um melhor estilo de vida à população, principalmente aos estudantes e idosos, já que "o direito à meia entrada em eventos culturais é uma conquista histórica dos estudantes e é essencial para garantir que todos tenham acesso à formação para além da sala de aula" (UNE, 2021).