_Juliana Barão e Manoella Isaac, co-autor João Pedro Vasques
Neste sábado de feriado, 05 de setembro, o clássico entre Brasil e Argentina, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022,pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, na Neo Química Arena, foi interrompido por autoridades da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A questão, como todo conflito, está sendo noticiada com fortes diferenças entre os pontos de vista das mídias dos dois países envolvidos. Aqui vamos tentar analisar os fatos aos quais temos acesso e apontar que houve erros de ambos os lados.
Em julho de 2020, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) se reuniu com os representantes dos dez países filiados para apresentar um protocolo de segurança que pudesse garantir o retorno do futebol, que estava paralisado desde março do mesmo ano devido à pandemia. No final do mês de agosto, a Conmebol tinha o aval dos dez governos, declarando que estariam de acordo com a flexibilização; desta maneira as copas Libertadores e Sul-Americana puderam retornar no mês de setembro.
Segundo o portal do Uol, até o presente momento a entrada das delegações estrangeiras no Brasil acontecia por meio de um item do artigo 3 das portarias do governo que definem as restrições de acesso ao país. O artigo deixa claro que estas regras não se aplicam a “profissional estrangeiro em missão a serviço de organismo internacional, desde que identificado”, portanto a Copa Libertadores, Copa Sul-Americana e Copa América ocorreram normalmente no Brasil. Entretanto, a portaria n°655, de 23 de junho de 2021, determinou obrigatória a quarentena de 14 dias para as pessoas que vem do Reino Unido, África do Sul e Índia, acabando então com a exceção citada anteriormente; o descumprimento dessa regra poderia acarretar na deportação dos infratores.
Emiliano Martínez e Emiliano Buendía jogam a Premier League pelo Aston Villa, Cristian Romero e Giovani Lo Celso pelo Tottenham. Os quatro jogadores foram convocados pela seleção Argentina para disputar o campeonato e, para que a partida no Brasil pudesse ser realizada, teriam que declarar passagem pela Inglaterra e cumprir com a quarentena estabelecida pela Anvisa, o que, segundo as informações obtidas até o momento, não ocorreu. Alguns jogadores da seleção brasileira também jogam por times na Inglaterra, porém não foram liberados por estes para virem ao Brasil disputar as eliminatórias, porque isso representaria cerca de um mês longe dos treinos e campeonatos na Europa.
A seleção argentina chegou ao Brasil na sexta-feira, dia 3. Ao entrar no país, deveriam preencher uma declaração apontando os países pelos quais passaram nos últimos catorze dias. Segundo a Anvisa, a confederação teria omitido o fato de alguns jogadores terem estado na Inglaterra - o que faria com que precisassem passar por quarentena. Além disso, foi recomendado que os atletas não saíssem do hotel em que estavam hospedados, provavelmente para reduzir o risco de contaminação - mas essa condição também não foi respeitada.
No dia do jogo, os atletas saíram do hotel e seguiram para a arena, aqueceram em campo e participaram da concentração como normal. A entrada oficial se seguiu, com os hinos e início da partida. O jogador Neymar, da seleção brasileira, chegou a abraçar diversos jogadores da equipe argentina, já sem máscara na entrada do jogo. Se houvesse risco de estarem carregando alguma variante do vírus, houve numerosas oportunidades para que se espalhasse.
A paralisação do jogo se deu após quatro minutos de bola rolando, com oficiais da Anvisa entrando em campo e pedindo a deportação dos atletas que vieram da Inglaterra. O jogo permaneceu por cerca de meia hora interrompido, com aglomeração na beira do campo das equipes técnicas e jogadores, oficiais de arbitragem e representantes do órgão de saúde brasileiro debatendo sobre qual seria a solução possível para o impasse. Depois da resolução de que o jogo de fato não ocorreria, a seleção argentina seguiu para o aeroporto, e a brasileira treinou em campo. A Fifa tem 72h para emitir um parecer oficial sobre o ocorrido.
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foto da aglomeração em campo, disponível em: metropoles.com
A confusão aconteceu por diversos erros em sequência, por parte de todos os envolvidos.
Da Afa, que não declarou que os atletas estiveram em países com restrição;
Da imigração brasileira, que não percebeu a irregularidade na documentação da comissão, e que não impediu a entrada dos atletas no país;
Dos jogadores argentinos, que saíram do hotel em que se hospedavam;
Da Anvisa, que não parou os atletas antes do início do jogo.
Por causa de todo este alvoroço, o Brasil está, novamente, na boca do povo como sendo desorganizado e despreparado. Muitas regras e leis que se aplicam a diversos países são entendidas aqui de forma diferente, é o país do “jeitinho”, onde tudo se resolve por alguma saída lateral. Isto não deixa de ocorrer no futebol que, apesar de realmente ser um fenômeno cultural para o nosso país, é, muitas vezes, colocado em uma posição de extrema importância, acima inclusive da saúde, como aconteceu e segue acontecendo neste período de pandemia que estamos enfrentando.
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