_Matheus Lopes
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um evento que ocorreu em São Paulo entre os dias 13 e 17 de fevereiro no Theatro Municipal, que tinha como principal proposta difundir e discutir as ideias modernistas nas artes a partir de uma série de exposições durante os dias. A exibição contemplou obras literárias com leituras de poemas, exposição de quadros e esculturas e também apresentações musicais.
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Comissão Organizadora da Semana de Arte Moderna
Disponível em: ufmg.br/comunicacao/noticias/professora-da-ufmg-lanca-coletanea-de-ensaios-em-celebracao-ao-centenario-do-modernismo-nacional
Foram diversos motivos que propiciaram o seu acontecimento em São Paulo, dentre eles, os principais foram a acelerada urbanização da cidade, análoga a burguesia industrial emergente. Ademais, o ano em que ocorreu também foi motivado pela comemoração que viria a seguir, o centenário da Independência brasileira, em que os modernistas pretendiam reagir a visão ufanista e mistificada da história brasileira.
Para construir um palco propício para a Semana de 22, ocorreram eventos que foram necessários para o seu acontecimento, iniciando uma revelação das tendências modernas para a elite paulistana, que por sua vez reagiu de forma apática, ainda muito presa ao academicismo. Uma delas foi a exposição do pintor russo Lasar Segall em 1913 com uma tímida repercussão e de Anita Malfatti em 1914 e sua mais importante em 1917.
A exposição de Anita Malfatti reunia suas obras feitas a partir de seus estudos nos Estados Unidos, em que apurou a sua sensibilidade para o expressionismo, inovando em cores e formas. Entretanto, a reação a sua exposição foi extremamente negativa, sendo seu principal crítico o escritor Monteiro Lobato, em que publicou um artigo criticando sua arte por ser tomada dos conceitos modernos o qual considerava paranoicos e mistificados e clamava por uma arte clássica para representar o Brasil. Contudo, seu posicionamento foi essencial para incendiar as discussões e defender os conceitos modernos que culminou na Semana de 22.
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Pintura “O homem amarelo” de Anita Malfatti
Disponível em: arteeartistas.com.br/o-homem-amarelo-anita-malfatti
Na concepção inicial do evento, a ideia era que ocorresse um encontro na livraria O Livro. Entretanto, o grupo percebeu que o espaço era pequeno para o que estava sendo proposto, sendo necessário um espaço maior. É neste momento que os artistas recebem a ajuda do influente cafeicultor Paulo Prado, nome importante no grupo da elite paulista, que juntamente com o diplomata Graça Aranha financiaram e legitimaram para que o evento ocorresse no Theatro Municipal, permitindo um evento que estremeceu o espírito conservador da burguesia paulistana.
O evento reuniu grandes nomes representantes do pensamento moderno paulista e carioca- ou futurista como era comumente chamado pela imprensa na época- a fim de promover uma exposição que rompesse com o formalismo nas produções artísticas e buscasse uma identidade essencialmente brasileira a partir das influências das vanguardas europeias. Os principais nomes participantes do evento foram os escritores Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald Andrade; os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti e o maestro Heitor Villa Lobos.
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Capas do catálogo da Semana de Arte Moderna feitas por Di Cavalcanti
Disponível em: www.culturagenial.com/obras-di-cavalcanti
A arquitetura na Semana de 22
A Semana de 22 teve como seu destaque a apresentação de artes visuais, literárias e musicais, entretanto houve também a discussão, ainda que de forma acanhada, acerca da arquitetura. Enquanto as outras formas de arte já possuíam características amplamente modernas, a discussão proposta de forma acadêmica durante o evento era acerca do neocolonial como forma de representar uma identidade nacional, representado por Antonio Moya e Georg Przyrembel. Somente 20 anos depois que a arquitetura brasileira será levada aos holofotes internacionais como verdadeiramente moderna com a exposição feita pelo MoMA (Museum of Modern Art) de Nova York no livro “Brazil Builds”.
É inegável a importância do evento para a formação futura do pensamento moderno brasileiro, e agora com seu centenário é o momento propício de repensar os seus conceitos e seus impactos.
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