_André Marques
O Rio de Janeiro é uma cidade de enorme tradição arquitetônica, os 197 anos de distrito federal deixaram uma marca profunda na cidade, seja na arquitetura, no urbanismo, nas artes, e nas questões sociais. De tudo que pode ser falado sobre arquitetura e o Rio, falarei de um arquiteto em específico. Apesar de não ser tão conhecido como Oscar Niemeyer, o que também não o torna um completo desconhecido, Affonso Eduardo Reidy (1909 - 1964) foi um importante arquiteto para o Rio de Janeiro, deixando uma marca profunda na cidade, principalmente quando falamos de espaço público, e da parte social da arquitetura.

Affonso Eduardo Reidy
Disponível em: www.archdaily.com.br/br/775125/em-foco-affonso-eduardo-reidy
Filho de um britânico e uma brasileira descendente de um arquiteto italiano. Reidy nasceu no dia 26 de Outubro de 1909, em Paris, apesar disso, cresceu no Rio de Janeiro e possui cidadania brasileira.
Em 1926, com dezessete anos, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, para cursar arquitetura e, tendo recebido uma educação tradicional, se formou com destaque em 1930, aos 21 anos. Nesse período, estagiou com Alfred Agache, urbanista responsável por elaborar um plano diretor para o Rio de Janeiro, na época capital do país, e isso possibilitou um contato maior com planejamento urbano e os métodos de trabalho na cidade. Ainda na faculdade, em seu último ano, Reidy foi assistente de Gregori Warchavchik na Escola Nacional de Belas Artes, o que acabou fazendo com que ele assumisse como professor em seu lugar após sua saída.
A principal característica definidora de Reidy foi que, durante sua vida, grande parte de seu trabalho se deu como funcionário público da Prefeitura do Distrito Federal, onde trabalhou no Departamento de Urbanismo e no Departamento de Habitação Popular. Em ambos, colaborou intensamente com a engenheira Carmen Portinho, mulher responsável por viabilizar, estruturalmente e politicamente, os projetos de Reidy.
Como arquiteto da prefeitura, Reidy elaborou diversos projetos e anteprojetos para edifícios diversos, porém, neste artigo serão citados os principais de sua carreira.
Dentro de seus principais trabalhos, gostaria de citar:
Ministério da educação e Saúde (1936 - 1938)
Reidy integrou a equipe responsável pela elaboração do projeto junto com Lúcio Costa, Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Além de Le Corbusier como consultor. Esse projeto foi um dos pioneiros da Arquitetura Moderna Brasileira, e atingiu grande repercussão internacional.


Disponíveis em: www.nelsonkon.com.br/mes/
De acordo com a equipe do projeto, como o terreno era cercado por ruas estreitas, a ideia principal foi pensar o edifício em altura, de forma a deixar grande parte do térreo livre. Além de colocar o prédio numa posição de destaque se comparado ao entorno, isso possibilitou a criação de uma grande esplanada, que poderia ser usada para cerimônias e eventos, entre outras finalidades.


Disponíveis em: www.nelsonkon.com.br/mes/
Conjunto Residencial Pedregulho (1947)
Apesar dos diversos prédios para diferentes finalidades que projetou, o que elevou o status de Affonso Eduardo Reidy e lhe deu imensa projeção internacional foi o Conjunto Residencial Pedregulho. Pioneiro e inovador em sua época, foi exportado como a demonstração de capacidade arquitetônica e de como o Estado Brasileiro estava interessado na questão de habitação social.

Disponível em: diariodorio.com/historia-do-pedregulho-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-moraes/
O empreendimento foi feito propositalmente de forma grandiosa, para chamar atenção e mostrar que habitação social produzida pelo Estado poderia ser feita com extrema qualidade. O conjunto de cerca de 380 moradias, era composto pelo bloco tipo A, com 272 apartamentos e 260 metros que acompanha as curvas do terreno, os blocos tipo B, com 80 metros e 56 apartamentos cada, uma escola de educação infantil com ginásio, piscina e campos de jogos ao ar livre, além um posto de saúde, um mercado e uma lavanderia mecânica.
Parafraseando Lúcio Costa, esse era um empreendimento singular, porque além de possuir tanto uma grande preocupação social quanto artística, foi necessário muita persistência para realizá-lo. Reidy concebeu arquitetonicamente o conjunto, e Carmen Portinho o conduziu nos mínimos detalhes, inclusive ensinando a morar.

Disponível em: diariodorio.com/historia-do-pedregulho-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-moraes/
Aterro e Parque do Flamengo (1954 - 1965)
Com as grandes mudanças vividas pela cidade principalmente a partir dos anos 20, o Rio de Janeiro viu outro grande problema surgir, o domínio da paisagem e do espaço pelos carros, com o aumento da largura das ruas para abrigar mais faixas, diversas vias de tráfego rápido sendo implantadas e o aumento do estacionamentos. Crescia a sensação de que faltavam espaços públicos de qualidade para a cidade, e que as rodovias poderiam ser barreiras entre a cidade e o mar.
Com a tarefa de equilibrar natureza e mobilidade, o projeto do parque do Flamengo é feito de forma que o sistema viário não se torne um impeditivo, uma barreira, entre a cidade e o mar. Com isso, o parque não deveria se tratar de mais um espaço de lazer destinado apenas a uma parcela da população, mas um parque em escala compatível com uma grande metrópole.

Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Aterro_do_Flamengo
Com o objetivo de conseguir a natureza e a técnica em equilíbrio, Reidy buscou articular o carro e o pedestre dentro do espaço público, as pistas são mais baixas que o entorno, e ao longo do percurso possuem diversas pontes de baixa angulação, para facilitar a transição do pedestre por cima das vias, além de refletir a amplitude e grandeza geográfica da baía de Guanabara, o projeto materializa a imagem de “ambiente tropical urbanizado''. O parque conta com diversas áreas de lazer, quadras, coreto, pavilhões para educadores, restaurantes, uma marina, piers, jardins, além do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que também viria a ser projeto de Reidy.

Urbanização do aterrro Glória-Flamengo (1962 - 1965)
Disponível em: www.archdaily.com.br/br/776776/uma-arquitetura-para-a-cidade-a-obra-de-affonso-eduardo-reidy

Disponível em: bemblogado.com.br/site/parque-do-flamengo-perde-arvores/
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1953)
Posicionado em lugar privilegiado dentro do Parque do Flamengo, a sede do Museu de Arte Moderna segue a mesma diretriz principal do resto do parque, não ser um impedimento visual entre a cidade e o mar, e exerce essa diretriz com maestria. O bloco principal do Museu tem o formato retangular e é composto de 14 pórticos de concreto armado, formado por uma viga superior, dois pilares maiores inclinados para fora, e dois menos inclinados para dentro, possui ainda a maior parte do térreo livre, liberando a vista do pedestre. O museu ainda possui mais dois edifícios anexos, separados por jardins, um bloco-escola em “L” e um auditório, de formato irregular.


Museu de Arte Moderna do Rio
Ao centro o bloco principal, à esquerda o auditório e à direita o bloco-escola e restaurante. Disponível em: www.archdaily.com.br/br/758700/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-moderna-do-rio-de-janeiro-affonso-eduardo-reidy
Principalmente por ser um arquiteto que trabalhou em grande parte para o poder público, muitos de seus trabalhos não chegaram a ser construídos, devido a problemas de custo e trocas de governo e de prioridades públicas, mas os que foram, demonstram a excelente capacidade de Reidy em articular arquitetura, espaço público e cidade, dando uma importância considerável ao caráter social da arquitetura.
Além dos projetos citados, ainda podem ser mencionados, o Centro técnico da Aeronáutica, o Colégio Brasil-Paraguai, o Conjunto Residencial Marquês de São Vicente e a sede do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara.
Este artigo teve o intuito de apresentar e despertar curiosidade de pesquisa, tanto para o arquiteto quanto para os temas abordados em sua obra. Aos que se interessaram e gostariam de ver sua obra completa, recomendo o livro Affonso Eduardo Reidy, do professor e pesquisador Nabil Bonduki (alunos da FAU esse livro está disponível para consulta e empréstimo na biblioteca da FAU).
Comments