_Fabrício Santos
Qual o poder de destruição do fogo? Os mais criteriosos diriam que a resposta varia de acordo com o grau de inflamabilidade – ou seja, a facilidade com que algo queima ou entra em ignição, causando fogo ou combustão – da matéria envolvida. As propriedades físicas dessa matéria podem ser distintas e constituírem elementos dos mais variados tipos: madeira, tijolo, ferro, papel, couro, gesso, entre muitos outros, que apesar de diferentes, queimam.
Eles queimam independentemente de qualquer valor que tenha sido atribuído a eles, não há distinção entre um mero papel contendo a lista de compras da semana e uma carta endereçada a D. Pedro II enquanto era imperador do Brasil, de valor histórico altamente relevante (um dos muitos documentos queimados e perdidos para sempre no incêndio ocorrido no Museu Nacional – Rio de Janeiro, em setembro de 2018).
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Museu Nacional do Rio de Janeiro, durante incêndio, em setembro do ano passado
Ricardo Moraes/Reuters
Incêndios de grande proporção, como os ocorridos no Museu Nacional, no Museu da Língua Portuguesa, SP (em dezembro de 2015) ou mais recentemente na Cinemateca Brasileira, SP (em 29 de julho de 2021) costumam causar grande comoção; por uma semana a sociedade se põe a refletir e lamentar as perdas, mas logo parece entrar em um estado anestésico, apático.
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Cinemateca Brasileira pega fogo na noite de 29 de Julho,2021.
Reprodução/Twitter
Resigna-se as perdas, sem lutar para que isso não torne a se repetir, sem pressionar os órgãos responsáveis por cuidar de um patrimônio que é público, e que, portanto, pertence a todos. Nessa toada, perdem-se a maior coleção – para uma região tropical – de répteis e artrópodes no incêndio no Instituto Butantan, SP (maio de 2010); a tapeçaria de mais de 800 metros quadrados realizada pela artista Tomie Ohtake (1913-2015) no incêndio do auditório Simón Bolívar, parte do complexo Memorial da América Latina, SP (em novembro de 2013); um casarão colonial, na região da Baixa dos Sapateiros, no centro histórico de Salvador, BA (setembro de 2018); ou ainda, a fauna e a flora dizimadas nos incêndios na região do pantanal brasileiro (2020), entre muitas outras perdas.
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Incêndio no Pantanal em 2020.
Mayke Toscano/Secom-MT/Fotos Públicas
Tudo queima. Passado, presente e a esperança de um futuro melhor. Nada e ninguém parece conseguir combater a natureza das chamas, que é queimar e arrasar; ou ao menos prevenir, tomar as devidas medidas para que os incêndios sejam evitados. O dito popular nos alerta, onde há fumaça, há fogo! Quando as chamas se alastram, nem o choro de uma nação inteira é capaz de detê-las.
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