_Paola Serafim FIlócomo
O grafite, originário de um movimento parisiense contracultura, surgiu em 1968 quando seus apoiadores registravam mensagens de cunho político nos muros da cidade. No Brasil, começou a manifestar-se durante o regime militar como forma de protesto contra o governo, em meio à repressão e censura aos veículos de comunicação e manifestações artísticas, o grafite era considerado crime pela legislação brasileira. Entretanto, não foi isso que impediu Alex Vallauri de radicar os primeiros grafites na cidade de São Paulo, em 1980. Suas obras tornaram-se referência para praticamente todos os artistas e hoje a data de sua morte é o Dia do Grafite no Brasil (27 de março).
São Paulo, uma das cidades mais culturalmente diversas do mundo, é a cidade brasileira mais influente no cenário mundial, sendo considerada a 14° cidade mais globalizada do planeta e o centro financeiro do continente sul-americano. Nessa cidade tão multicultural e populosa, as regiões divergem entre si em diferentes aspectos, porém, o que todas têm em comum, o que as unifica, é a presença do grafite. Portanto, não é à toa que da “terra da garoa” surgiram tantos grafiteiros reconhecidos, como Nina Pandolfo, Nunca, Eduardo Kobra, Cris Rodrigues, ISE, Finok, Vitché e Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, os quais afirmam que “o grafite é uma manifestação artística que faz parte do cotidiano de todos, quer você goste ou não. Ele se impõe”. Este está, de fato, presente no dia-a-dia do paulistano, pois seu principal objetivo, que é ocupar a cidade, trazer mensagens e manifestações de todos os gêneros, é cumprido diariamente transformando a cidade em um museu a céu aberto que torna a arte acessível à todas as classes sociais.
Especialmente com esse objetivo da acessibilidade foi que inaugurou-se com autorização da prefeitura, na Avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte da capital, em 2011, o primeiro Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU) em que um grupo de 58 artistas fez 66 painéis. "O fato da arte estar na rua, já é muito mais democrático. A pessoa não precisa entrar numa galeria fechada para ver", afirmou a artista e grafiteira Prila Paiva, 35 anos. Alguns bairros em São Paulo são marcados pela presença do grafite, como o Cambuci, a Vila Madalena que tornou-se ponto turístico devido sua característica boêmia, a presença do Beco do Batman e do Baco do Aprendiz.
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MAAU – Fonte: Fotografia Folha de São Paulo
"O grafite tem uma recepção muito boa em todos os níveis. Não tem mais aquela má impressão da arte marginal", diz Marina Gonzalez – produtora cultural que junto com Ricardo Czapski lançou o livro “Graffiti em São Paulo” que registra a arte efêmera que é o grafite em um compilado de fotos construído ao longo de 5 anos. Entretanto, foi um árduo processo para que essa forma de arte fosse desmarginalizada. "A arte não é para você gostar, é para você refletir e pensar ", comentou Thiago Mundano, 27 anos, que se auto-intitula “artivista”, por atrelar o grafite a ações sociais.
Atualmente, sendo mais rentável e reconhecido, o grafite está presente em exposições e eventos ao redor do mundo, apesar de sua relação com o poder público em São Paulo ainda não ser muito positiva, dado que muitos dos muros que colorem a cidade são pintados de cinza e depois, voltam a ser grafitados novamente como forma de protesto à falta de apoio que os artistas sentem por parte da esfera pública. "Nunca sentimos, por parte da prefeitura, interesse de entender e respeitar a cultura do grafite", contam Os Gêmeos, "Existem problemas sérios em São Paulo que precisam desse dinheiro do contribuinte, em vez de ser investido em tinta cinza para apagar trabalhos de arte".Mesmo enfrentando condições desfavoráveis, a arte resiste, e sim, São Paulo hoje é a capital mundial do grafite.
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